Vera Marini / 27.01.2021 / psicologiasaudenarede@gmail.com
Sabe-se hoje que a Covid-19 pode atingir órgãos vitais como pulmões, coração, rins e cérebro pois, assim que entra no corpo, o vírus toma conta das células das vias respiratórias e dos pulmões transformando-os em fábricas do vírus que se espalham para outras células do corpo.
A partir dessa invasão, o corpo começa a ativar de modo maciço os sistemas de defesa (inflamação sistêmica) que quando em excesso pode atacar órgãos vitais.
Após meses de pandemia, pacientes que tiveram formas leves da Covid-19, sem hospitalização, têm procurado auxílio médico para relatar o retorno dos sintomas, após terem sido considerados curados, descrevem que alguns sintomas persistem como se a infecção tivesse se tornado crônica.
Esses pacientes em sua maioria são mulheres com uma vida relativamente saudável, sem a presença de comorbidades como diabetes e obesidade, entretanto homens também não estão livres de tal situação.
Os sintomas relatados são insônia, cansaço crônico, cardiorrespiratórios (tosse, falta de ar ou opressão no peito), refluxo gastroesofágico ou outros problemas digestivos, diarreia ou aceleração do trânsito intestinal, dores de cabeça, mal-estar geral, perda de peso, dificuldade para recuperar a massa muscular, problemas de concentração e memória.
Em doenças como uma forte gripe, algumas pessoas podem necessitar de um período maior e mais demorado de convalescença, apresentando sintomatologia por vários meses, nestes casos os exames laboratoriais mostram traços concretos da doença, o que não está ocorrendo com a “Síndrome Pós-Covid”. Os exames laboratoriais não apontaram alterações e com isso muitos médicos acreditavam que esses sintomas estavam na mente de seus pacientes, não sendo nada mais que uma forma de depressão.
Isso ocorre porque fomos treinados a pensar que os nossos sintomas são totalmente físicos ou totalmente psicológicos, mostrando a dicotomia corpo e mente da Medicina Ocidental (MO).
Num paralelo com a Medicina Tradicional Chinesa (MTC), sabemos que há interação entre a lesão causada pelo vírus ou bactéria, a depressão e a fadiga que vai se sucedendo num circuito fechado, já que o organismo falha ao eliminar o fator patogênico residual, dando origem a Síndrome da Fadiga Crônica ou Síndrome Pós-viral.
As manifestações clínicas da Síndrome Pós-viral são mialgia, depressão, perturbação do sono, irritabilidade, memória e concentração deficientes, flutuação do peso corporal (ocorrendo mais em mulheres), febre baixa intermitente, apetite deficiente, distensão abdominal, alternância entre constipação e fezes amolecidas e transpiração noturna.
A Síndrome Pós-viral (Maciocia, 2009) pode ocorrer pelos fatores predisponentes a seguir:
● Não se resguardar quando doente desconsiderando os cuidados necessários, engajando-se em atividades que exijam das forças físicas, evitando descansar e se recuperar no período de convalescença, aqui incluímos a atividade sexual excessiva e excesso de trabalho;
● Constituição fraca herdada dos pais e/ou aquisição de doenças crônicas;
● Alimentar-se de maneira irregular, em situação de estresse, comer enquanto trabalha ou tarde da noite, ficar muitas horas sem se alimentar ou alimentação não balanceada consumindo excessivamente calorias, gorduras, doces e falta de nutrientes essenciais;
● Uso abusivo de antibióticos que, quando não utilizados com moderação, matam não só os agentes nocivos ao nosso corpo, como também os benéficos ao equilíbrio e bom funcionamento orgânico, depauperando a resistência corporal.
Para a MTC o fator patogênico pode entrar no corpo e permanecer latente por certo tempo, sem causar sintomas imediatos, ficando incubado, emergindo mais tarde com a seguinte sintomatologia:
● Prejuízo da memória, concentração, sensação de peso e atordoamento na cabeça;
● Problemas digestivos com sensação de plenitude, distensão abdominal, náusea, apetite deficiente, gosto pegajoso ou amargo na boca, fezes amolecidas ou constipação;
● Fadiga muscular com dores, peso no corpo e membros;
● Prostração repentina e cansaço crônico;
● Irritabilidade, depressão dentre outros.
Podemos considerar como causas de o fator patogênico entrar no corpo o estresse emocional, o trabalho excessivo, as mudanças climáticas com invasão de frio ou calor e contágio por vírus ou bactérias.
A manifestação tardia não significa necessariamente que o fator patogênico está sendo expelido e sim que está se manifestando após ficar incubado.
Tanto a MO como a MTC entendem que uma pessoa saudável, ao contrair uma infecção aguda e após ter sido curada, pode apresentar sinais e sintomas persistentes com demora na recuperação ou sequelas da doença contraída.
Esse fato está sendo corroborado pelos estudos feitos com pacientes que tiveram Covid-19, podendo levar a diminuição da resposta imunológica.
Referência bibliográfica
- Maciocia Giovanni. Prática da Medicina Chinesa: tratamento das doenças com acupuntura e ervas chinesas.São Paulo, Roca, 2009.
- Estudos analisam sequelas duradouras de pacientes com sintomas leves. Disponível em: https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2021/01/05/covid-19-estudos-analisam-sequelas-duradouras-de-pacientes-com-sintomas-leves.ghtml
- 'Tenho a impressão de morrer lentamente': as pessoas que sofrem há meses com sintomas persistentes. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-55462552
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